Luciana de Jesus Alves Davi (*)
Porque aprender a ler e escrever é um passo importante na vida de nossas crianças e jovens. Esse é o maior objetivo dos professores do ensino fundamental e muitas vezes, o mais complicado.
Várias são as vertentes, as teorias, as técnicas, porém, é cada vez maior o número de crianças com dificuldade na aquisição da habilidade de ler, escrever e soletrar.
Não podemos negar que há uma linha que une emoção e cognição em todas as atividades ligadas à aprendizagem formal e dentro disso, podemos pensar no processo de alfabetização dos alunos, ligado a essas duas áreas.
Lê e compreende um texto, quem aprendeu a fazer leitura do mundo que o cerca. Também, quando se escreve, se insere um gesto no mundo, se concretiza um ato, que antes pode ter sido “desejo”. Escrevemos para concretizar idéias, comunicar o que pensamos, entendemos e sentimos.
Uma criança com baixa auto-estima, com sentimentos de desvalia, provavelmente não acreditará no seu potencial e terá a crença de que o que faz não será bem aceito pelo mundo, então, pode se negar a escrever, denunciando que se sente incapaz de realizar essa atividade adequadamente. Para outra criança da mesma idade, escrever ou ler pode ser prazeroso, a ponto de sentir-se valorizada por seu desempenho e a cada nova etapa, aceita novos desafios, apresentando boa auto-estima, sentindo-se capaz de apreender o mundo da leitura e da escrita.
Com esses exemplos acima, falamos da área afetiva ligada à produção da escrita.
Nos que diz respeito à cognição, para ler e escrever, temos que usar nossa percepção, discriminação visual e auditiva, memória, raciocínio, viso-construção, atenção e concentração, entonação da fala, processos de pensamento abstratos e concretos, conceitos lingüísticos, funções executivas, consciência fonológica, entre outras habilidades. Qualquer defasagem em pelo menos uma dessas funções provocará dificuldade de escrever ou de compreender um texto. Porém, todas essas habilidades cognitivas, são influenciadas pelas nossas emoções. Qualquer alteração emocional, provoca no corpo, uma alteração. Exemplo, a ansiedade desorganiza áreas atencionais e de planejamento.
Além de cognição e afeto, devemos ter em mente que as crianças usam a psicomotricidade e a consciência corporal para ler e escrever. Psicomotricidade que começa a ser estimulada ainda quando são bebês.
O desenvolvimento neuropsicomotor é fator fundamental para os futuros leitores e escritores( entendendo aqui, qualquer um que tenha adquirido a habilidade de escrever corretamente e não somente os escritores de livros e textos mais elaborados).
A alfabetização não começa no ensino fundamental. Ela se inicia, na pré-escola, no contato com a família, com a comunidade, no contato social onde as crianças tem acesso a imagens, sons, símbolos, letras e movimentos. Uma criança que ainda não sabe escrever e soletrar seu nome sabe perfeitamente identificar símbolos sociais e comerciais, como por exemplo, o “M” do Mc’Donalds, o desenho da palavra “Nescau”, no rótulo do produto, o nome do seu time de futebol do coração estampado na camisa dos jogadores, os nomes dos personagens do vídeo-game e dos desenhos animados.
Para escrever, a criança também vive um processo social e viso-construtivo. Reconhece a grafia das propagandas na TV, nas ruas e também aprende primeiro a desenhar suas “garatujas”.
À partir do círculo, das linhas, dos contornos, ela passa a entender que poderá produzir símbolos gráficos, conhecidos no contexto social. Assim, aprende que a leitura e a escrita são formas de comunicação e passa a se interessar por essa função social da linguagem.
Sabemos da importância da consciência fonológica para o processo de construção da leitura e escrita de crianças e jovens e hoje dispomos de excelentes recursos para atuar na clínica e nas salas de aula. Atividades de consciência fonológica podem e devem ser realizadas ainda na educação infantil, durante brincadeiras, através do lúdico.
A consciência fonológica facilita não somente o avanço de crianças com distúrbios e dificuldades de aprendizagem, como daquelas que não tem dificuldade alguma.
A supervalorização de uma única via de acesso de informação (visual, por exemplo), prejudica o processo de aprendizagem da leitura e escrita. Atuações que façam mescla entre audição, visão e cinestesia, darão sempre melhores resultados.
O papel da família é fundamental, pois é no cotidiano que podem mostrar o quanto poder ser gostoso se comunicar dessa forma. Quando os pais apresentam para seus filhos formas de escrita diversas, como por exemplo, bilhetes, receitas culinárias, jornais, revistas, livros, bulas de remédios, calendários com rotina, cartas, e-mails, pesquisas na internet, entre outras formas, estarão mostrando que além de prazeroso, pode ser funcional saber ler e escrever.
Pensando em estilos cognitivos, cada um de nós tem o seu e isso não é diferente entre as crianças e os adolescentes. O educador precisa identificar na clínica ou na escola, qual o estilo cognitivo predominante em cada aluno, para entender o processo de aprendizagem e assim, se instrumentalizar adequadamente, para intervir, valorizando as características individuais de seus alunos.
Resumindo, precisamos encontrar formas, cada vez mais prazerosas de apresentar o mundo das letras para as crianças. Valorizando a subjetividade, as relações interpessoais e a construção de significados de cada um, com certeza encontraremos essas formas.
Talvez não a tecnologia somente, mas as experiências lúdicas, o brincar, a trocas afetivas, as experiências cotidianas, entrem mais profundamente do dia-a-dia das escolas e que todos nós, educadores, possamos entender, que a aprendizagem não se baseia somente nos livros didáticos, mas em qualquer lugar e recurso que permita que cada um de nós aprenda de maneira significativa.
Gostaria de finalizar esse texto, convidando vocês a refletirem sobre um escrito de Vitor da Fonseca:
“Todos, sem exceção, tem direito à organização do seu potencial cognitivo (e emocional) e a sociedade, no seu todo, tem o dever de promover...”