quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aprendendo a ler e a escrever?


Luciana de Jesus Alves Davi (*)

Porque aprender a ler e escrever é um passo importante na vida de nossas crianças e jovens. Esse é o maior objetivo dos professores do ensino fundamental e muitas vezes, o mais complicado.
Várias são as vertentes, as teorias, as técnicas, porém, é cada vez maior o número de crianças com dificuldade na aquisição da habilidade de ler, escrever e soletrar.
Não podemos negar que há uma linha que une emoção e cognição em todas as atividades ligadas à aprendizagem formal e dentro disso, podemos pensar no processo de alfabetização dos alunos, ligado a essas duas áreas.
Lê e compreende um texto, quem aprendeu a fazer leitura do mundo que o cerca.  Também, quando se escreve, se insere um gesto no mundo, se concretiza um ato, que antes pode ter sido “desejo”. Escrevemos para concretizar idéias, comunicar o que pensamos, entendemos e sentimos.
Uma criança com baixa auto-estima, com sentimentos de desvalia, provavelmente não acreditará no seu potencial e terá a crença de que o que faz não será bem aceito pelo mundo, então, pode se negar a escrever, denunciando que se sente incapaz de realizar essa atividade adequadamente. Para outra criança da mesma idade, escrever ou ler pode ser prazeroso, a ponto de sentir-se valorizada por seu desempenho e a cada nova etapa, aceita novos desafios, apresentando boa auto-estima, sentindo-se capaz de apreender o mundo da leitura e da escrita.
Com esses exemplos acima, falamos da área afetiva ligada à produção da escrita.
Nos que diz respeito à cognição, para ler e escrever, temos que usar nossa percepção, discriminação visual e auditiva, memória, raciocínio, viso-construção, atenção e concentração, entonação da fala, processos de pensamento abstratos e concretos, conceitos lingüísticos, funções executivas, consciência fonológica, entre outras habilidades. Qualquer defasagem em pelo menos uma dessas funções provocará dificuldade de escrever ou de compreender um texto. Porém, todas essas habilidades cognitivas, são influenciadas pelas nossas emoções. Qualquer alteração emocional, provoca no corpo, uma alteração. Exemplo, a ansiedade desorganiza áreas atencionais e de planejamento.
Além de cognição e afeto, devemos ter em mente que as crianças usam a psicomotricidade e a consciência corporal para ler e escrever. Psicomotricidade que começa a ser estimulada ainda quando são bebês.
O desenvolvimento neuropsicomotor é fator fundamental para os futuros leitores e escritores( entendendo aqui, qualquer um que tenha adquirido a habilidade de escrever corretamente e não somente os escritores de livros e textos mais elaborados).
A alfabetização não começa no ensino fundamental. Ela se inicia, na pré-escola, no contato com a família, com a comunidade, no contato social onde as  crianças tem acesso a imagens, sons, símbolos, letras e movimentos. Uma criança que ainda não sabe escrever e soletrar seu nome sabe perfeitamente identificar símbolos sociais e comerciais, como por exemplo, o “M” do Mc’Donalds, o desenho da palavra “Nescau”, no rótulo do produto, o nome do seu time de futebol do coração estampado na camisa dos jogadores, os nomes dos personagens do vídeo-game e dos desenhos animados.
Para escrever, a criança também vive um processo social e viso-construtivo. Reconhece a grafia das propagandas na TV, nas ruas e também aprende primeiro a desenhar suas “garatujas”.
À  partir do círculo, das linhas, dos contornos, ela passa a entender que poderá produzir símbolos gráficos, conhecidos no contexto social. Assim, aprende que a leitura e a escrita são formas de comunicação e passa a se interessar por essa função social da linguagem.
Sabemos da importância da consciência fonológica para o processo de construção da leitura e escrita de crianças e jovens e hoje dispomos de excelentes recursos para atuar na clínica e nas salas de aula. Atividades de consciência fonológica podem e devem ser realizadas ainda na educação infantil, durante brincadeiras, através do lúdico.  
A consciência fonológica facilita não somente o avanço de crianças com distúrbios e dificuldades de aprendizagem, como daquelas que não tem dificuldade alguma.
A supervalorização de uma única via de acesso de informação (visual, por exemplo), prejudica o processo de aprendizagem da leitura e escrita. Atuações que façam mescla entre audição, visão e cinestesia, darão sempre melhores resultados.
O papel da família é fundamental, pois é no cotidiano que podem mostrar o quanto poder ser gostoso se comunicar dessa forma. Quando os pais apresentam para seus filhos formas de escrita diversas, como por exemplo, bilhetes, receitas culinárias, jornais, revistas, livros, bulas de remédios, calendários com rotina, cartas, e-mails, pesquisas na internet, entre outras formas, estarão mostrando que além de prazeroso, pode ser funcional saber ler e escrever.
Pensando em estilos cognitivos, cada um de nós tem o seu e isso não é diferente entre as crianças e os adolescentes. O educador precisa identificar na clínica ou na escola, qual o estilo cognitivo predominante em cada aluno, para entender o processo de aprendizagem e assim, se instrumentalizar adequadamente, para intervir, valorizando as características individuais de seus alunos.
Resumindo, precisamos encontrar formas, cada vez mais prazerosas de apresentar o mundo das letras para as crianças. Valorizando a subjetividade, as relações interpessoais e a construção de significados de cada um, com certeza encontraremos essas formas.
Talvez não a tecnologia somente, mas as experiências lúdicas, o brincar, a trocas afetivas, as experiências cotidianas, entrem mais profundamente do dia-a-dia das escolas e que todos nós, educadores, possamos entender, que a aprendizagem não se baseia somente nos livros didáticos, mas em qualquer lugar e recurso que permita que cada um de nós aprenda de maneira significativa.
Gostaria de finalizar esse texto, convidando vocês a refletirem sobre um escrito de Vitor da Fonseca:
“Todos, sem exceção, tem direito à organização do seu potencial cognitivo (e emocional) e a sociedade, no seu todo, tem o dever de promover...”


(*) Psicóloga, Psicopedagoga Clínica e Neuropsicóloga. 
Texto redigido para uso exclusivo no curso de intervenção psicopedagógica, no Instituto Pieron de Psicologia Aplicada, em agosto/2009.

A reprodução só poderá ser feita, com autorização da autora.


terça-feira, 12 de abril de 2011

Aula Psicopatologia em 12.04.2011

Olá pessoal! Hoje tivemos a presença de duas colegas de profissão, apresentando casos reais, com diagnósticos de: Psicose Infantil e Tendência Anti-Social. Foi uma grande experiência para nosso grupo!!!
É uma alegria ver que duas companheiras de psicologia, que foram minhas alunas, estão seguindo caminhos tão belos!
Nádia, hoje somos amigas e fico muito feliz de ver que seremos parceiras na docência, algo tão importante em minha vida. Dividir sala de aula contigo, será um prazer!
Agradeço sua participação e da Cris. Foram extremamente gentis!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dia de Luto...o Brasil chora!

Preciso dividir com vocês a dor dessa notícia de hoje. Crianças brutalmente assassinadas, executadas, dentro da escola, local que deveria protegê-las.
Que tristeza ver o caos social em que vivemos. Crianças vitimizadas, por um adulto perturbado, desde sua própria infância.
O que estamos fazendo para mudar essa realidade? O que cada um de nós na clínica, na escola, na sociedade, faz para mudar essa cruel realidade.
Crianças vítimas de adultos covardes, preconceituosos, sem moral!
Estamos desinventando a infância. Estamos massacrando os jovens.
E o que fazemos enquanto profissionais da saúde e educação? Levantamos e nos mobilizamos?
Será que defendemos verdadeiramente nossas crianças na clínica? Defendemos nossos pequenos infantes de adultos irresponsáveis, distantes, ausentes? Somos fortes suficientes para dizer  aos pais e educadores o que precisa ser dito? O psicólogo assume seu papel de agente da saúde ou se acovarda diante de situações como essa?
Bullying, eis o tema que também norteia essa tragédia. Uma criança, hoje adulto, que passara por situações de bullying em sua escola. Cresce com esse trauma, se isola, se despersonaliza e age, como forma de devolver ao mundo, notadamente a escola onde estudou, tudo aquilo que sente ter recebido durante a infância. O adulto que mata na escola, foi violentamente atacado nessa mesma escola, durante a infância. Será que fizeram algo na época, ou se acovardaram? Hoje algós, um dia já foi vítima.
Sabemos da gravidade da violência moral na escola e na sociedade. Nós psicólogos e educadores conhecemos as consequências graves de qualquer violência que o ser humano sofra na infância e o que fazemos? Orientamos pais, escolas, chefias, pessoas em geral?
Isso poderia ter sido evitado!!!
As crianças pedem socorro...clamam por viver com saúde, tranquilidade, educação e amor...amor de pai e mãe, de professor, do mundo. Será que amamos nossas crianças a ponto de protegê-las de tamanha violência?
Espero que essa situação além da dor, provoque reflexão. Falam na mídia sobre aumentar a "segurança" nas escolas. Clamo por "educação, demanda de amor". Clamo por adultos amorosos, fortes e coerentes.
Que angústia!!! Porém, sei que faço minha parte. Luto por aqueles que me solicitam ajuda. Acolho pais, professores, mas meu foco principal está nas crianças, que muitas vezes usam minha voz para poderem dizer e mostrar o que sentem!
Que Deus nos ajude e que acolha o coração de cada mãe e pai que perdeu seu filho nessa grande tragédia!!!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Para pensarmos...

FÁBULA


Conta-se que os bichos determinaram criar uma escola porque o meio em que viviam estava se complexificando em demasia e já não podiam viver socialmente bem, com seus instintos inatos.
Aqui temos a necessidade que dá origem à instituição educacional. Não podiam, com seus instintos inatos, enfrentar um meio que se havia complicado demais. Por isto precisavam de uma Escola para adaptá-los e prepará-los convenientemente para as novas estruturas do ambiente.
Foi escolhido um corpo docente ótimo, todo ele com grandes títulos universitários e boa experiência, de modo que isto envaidecia a todos.
Para esta Escola, sem muita preocupação com o meio ambiente, escolheram o seguinte currículo: nadar, correr, voar, galgar morros e superar obstáculos.
Os primeiros alunos foram o cisne, o pato, o coelho, o gato e o cachorro.
Começado o curso, cada mestre preocupado apenas com sua matéria dava-a a torto e direito, pois era assim que julgava que estava certo e que fazia jus a seus acadêmicos. Os alunos, ao contrário, iam se desencantando com tão almejada escola.
Vejamos o caso particular de cada aluno.
O cisne nas aulas de correr, de voar, de subir morros, apesar de todo esforço, era mau aluno. Tirava notas péssimas, mostrava os pés ensanguentados nas corridas e as asas com calos adquiridos na ânsia de voar alto e veloz. O pior era que com o esforço nessas disciplinas começara a nadar pior que antes, coisa em que era exímio.
O coelho por sua vez, padecia nas matérias de nadar e voar. Como poderia voar se não tinha asas? Mas ninguém poderia ficar dispensado de nenhuma matéria. Em se tratando de nadar, a coisa era igualmente difícil, se bem que um pouco menos que a anterior. O que o salvava eram as duas matérias anteriores, correr e galgar morros, pois suas notas em nadar eram de reprovação.
O gato tinha o mesmo problema do coelho, em se tratando de nadar e voar. Com respeito a voar, ele insistia em que se fosse o caso de vir de cima para baixo, ele podia ter relativo êxito. O professor, contudo, não podia aceitar esta condição, porque não estava de acordo com o programa oficial que deveria ser cumprido rigorosamente.
O pato, finalmente, era um aluno medíocre em tudo – Voava um pouco, corria mais ou menos, nadava até muito menos que o cisne. Claro, escalava até com certo desembaraço. Sua média geral era a melhor. Não tinha reprovações como o coelho e o gato. Por isso sua mediocridade em tudo o fazia sumamente brilhante na estatística final.
Foi assim, escolhido orador da turma, apesar de reclamação geral.
O coelho se queixava de correr e galgar morros muito melhor que ele; o cisne de nadar muito melhor. Cada um tinha sua queixa justificada a fazer. Um único fato deixou todos calados: ninguém tinha média superior à dele e por isto estatisticamente era superior a todos.



fonte: Centro de Recursos Humanos e Pesquisas Educacionais

“Prof. Laerte Ramos de Carvalho”