A revista Veja dessa semana publicou dois textos sobre escola. E um deles foi assinado pelo hospital Einstein.
QUANDO aprender é um sofrimento.
QUANDO aprender é um sofrimento.
Disponível em: <http://www.einstein.br/pagina-einstein/Paginas/quando-aprender-e-um-sofrimento.aspx> Acesso em: 06 fev. 2012.
Crianças com distúrbios de aprendizagem podem chegar à vida adulta sem desenvolver plenamente suas capacidades
É na idade escolar que os sintomas dos distúrbios de aprendizagem tornam-se mais visíveis. A criança tem dificuldades em áreas como escrita, leitura e matemática – problemas frequentemente confundidos com falta de inteligência, preguiça ou desleixo. É verdade que nem todos os casos são de distúrbios de aprendizagem. A maioria, aliás, está relacionada à falta de motivação, inadequação ao método de ensino, problemas na interação com o professor e até doenças como anemia, depressão ou comprometimento da visão e audição. Todas essas questões influenciam o aprendizado e devem ser descartadas antes de se partir para o passo seguinte: investigar a existência de distúrbios de aprendizagem, que são disfunções de bases neurobiológicas.
Os mais frequentes são dislexia (afeta leitura e escrita), transtorno não-verbal de aprendizagem (afeta distinção de formas, quantidades e tamanhos) e discalculia (dificuldade com cálculos). Também comum é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDHA), um distúrbio de comportamento que pode prejudicar severamente a aprendizagem.
“Quando essas disfunções não são adequadamente identificadas e tratadas, a criança pode ter seu desenvolvimento escolar, psicológico e social comprometido e, por vezes, carregar o problema ao longo da vida. Além de afetar o desempenho educacional, esses transtornos acabam com a autoestima e podem, ao longo do tempo, desencadear outros sintomas, como ansiedade e depressão”, afirma o Dr. Erasmo Barbante Casella, neuropediatra do Einstein e coordenador do ambulatório de Distúrbios do Aprendizado do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Crianças com distúrbios de aprendizagem podem chegar à vida adulta sem desenvolver plenamente suas capacidades
É na idade escolar que os sintomas dos distúrbios de aprendizagem tornam-se mais visíveis. A criança tem dificuldades em áreas como escrita, leitura e matemática – problemas frequentemente confundidos com falta de inteligência, preguiça ou desleixo. É verdade que nem todos os casos são de distúrbios de aprendizagem. A maioria, aliás, está relacionada à falta de motivação, inadequação ao método de ensino, problemas na interação com o professor e até doenças como anemia, depressão ou comprometimento da visão e audição. Todas essas questões influenciam o aprendizado e devem ser descartadas antes de se partir para o passo seguinte: investigar a existência de distúrbios de aprendizagem, que são disfunções de bases neurobiológicas.
Os mais frequentes são dislexia (afeta leitura e escrita), transtorno não-verbal de aprendizagem (afeta distinção de formas, quantidades e tamanhos) e discalculia (dificuldade com cálculos). Também comum é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDHA), um distúrbio de comportamento que pode prejudicar severamente a aprendizagem.
“Quando essas disfunções não são adequadamente identificadas e tratadas, a criança pode ter seu desenvolvimento escolar, psicológico e social comprometido e, por vezes, carregar o problema ao longo da vida. Além de afetar o desempenho educacional, esses transtornos acabam com a autoestima e podem, ao longo do tempo, desencadear outros sintomas, como ansiedade e depressão”, afirma o Dr. Erasmo Barbante Casella, neuropediatra do Einstein e coordenador do ambulatório de Distúrbios do Aprendizado do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A dificuldade de aprender é uma das queixas mais frequentes nos consultórios pediátricos.
Segundo ele, a dificuldade de aprender é uma das queixas mais frequentes no consultório pediátrico, respondendo por cerca de 5% de todas as consultas nessa especialidade. “Mas, antes de investigar eventuais disfunções neurológicas, é preciso analisar a existência de outras causas que possam estar levando ao problema”, observa o Dr. Erasmo.
O diagnóstico não é fácil, pois não há exames de imagem ou laboratoriais que permitam identificar esses distúrbios. Em geral, isso é feito por meio da avaliação da criança por diferentes profissionais, como neurologista, psicopedagogo, psicólogo e fonoaudiólogo. Mas há tratamento – e ele funciona! “Com estimulação e orientação, a criança encontra outras maneiras de aprender, superando as dificuldades”, diz Melina Blanco Amarins, psicóloga e psicopedagoga do Einstein “Para isso, é importante que essas disfunções sejam identificadas o quanto antes”, ressalta ela.
Dislexia
A dislexia atinge de 4% a 5% da população e é caracterizada pela falta de fluência na leitura, dificuldade para soletrar, fazer rimas e escrever corretamente. O disléxico costuma trocar sílabas e letras parecidas, como “v” e “u”, na hora de ler e escrever. “Mesmo sendo inteligente e apresentando bom desempenho em outras áreas, quem tem o problema acaba ganhando o rótulo de burro e preguiçoso. A tendência é, com o tempo, perder o interesse pela escola”, alerta o Dr. Erasmo.
O diagnóstico é feito a partir da avaliação de uma equipe multifuncional formada por neurologista, psicopedagogo, psicólogo e fonoaudiólogo, com base na história da criança e em uma série de testes que mostram sua capacidade para desenvolver determinadas atividades. É necessário ter, ao menos, dois anos de alfabetização. No entanto, é possível detectar os sinais mais precocemente. A criança com dislexia pode ter como antecedentes atraso no desenvolvimento da fala, na locomoção e no aprendizado de tarefas como segurar a colher e comer sozinho, por exemplo.
O tratamento inclui exercícios de decodificação fonológica para reabilitar as funções neurológicas envolvidas no aprendizado. O portador é estimulado a fazer rimas, cópias, soletrar palavras ou formar novas após a retirada de uma sílaba ou letra (tirar a primeira sílaba de sapato ou a primeira letra de casa, por exemplo). Vários estudos comprovam que, após dois meses recebendo esses estímulos, há significativa ativação nas regiões do cérebro responsáveis por essas funções.
Transtorno não-verbal da aprendizagem
Algumas pessoas leem fluentemente, mas não conseguem interpretar o conteúdo de um texto, têm dificuldade para realizar operações matemáticas mais complexas e executar tarefas como desenhar um cubo, jogar tênis ou andar de bicicleta. Nesses casos, a suspeita recai sobre o transtorno não-verbal da aprendizagem. O distúrbio tem origem neurológica e provoca comprometimento psicomotor e visoespacial, dificultando distinguir formas, quantidades, tamanhos e expressões faciais, entre outros.
A avaliação, como na dislexia, é feita por uma equipe interdisciplinar, a partir da aplicação de testes neuropsicológicos. O tratamento também deve envolver diferentes profissionais, como neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo.
Discalculia
A criança com discalculia pode apresentar um desenvolvimento cognitivo normal e, mesmo assim, enfrentar sérias dificuldades com a matemática. O transtorno pode afetar a capacidade para contar, executar operações e cálculos, escrever e compreender até mesmo conceitos mais simples, como relacionar um número a uma quantidade de maçãs em uma cesta de frutas.
O tratamento, orientado pelo neurologista, envolve a realização de jogos e atividades psicopedagógicas que facilitam a descoberta de novos processos de aprendizagem.
TDAH
Observado em 5% a 6% das crianças e jovens de até 18 anos, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) afeta a aprendizagem, principalmente em razão da impulsividade, dificuldade para se concentrar e memorizar.
Quando chega ao final da leitura de um texto, o portador de TDAH muitas vezes não lembra mais do início. Outro problema que pode estar associado é o difícil relacionamento com pais, professores e colegas de classe. No adulto, o TDAH costuma afetar o sucesso profissional e o convívio familiar, afetivo e social.
“Vários estudos científicos demonstram que a doença tem bases neurológicas, atrasando a maturidade da área do cérebro ligada ao comportamento e ao aprendizado”, afirma o Dr. Erasmo. Em 60% a 70% dos casos, o TDAH está associado a outras doenças, como transtorno bipolar, depressão, ansiedade e dislexia.
O diagnóstico não é simples. A criança precisa ser submetida a uma avaliação extensa, na qual se busca identificar os prejuízos causados nos diferentes ambientes frequentados, como o familiar e o escolar, em um período mínimo de seis meses. A doença pode ser tratada com medicamento, acompanhamento de psicopedagogo para o paciente e também para a família.
Sinal de atenção
É importante que pais e professores estejam atentos aos sinais que a criança apresenta e que podem indicar que é hora de buscar ajuda de um especialista. Dificuldades na escola podem ter várias causas, inclusive os distúrbios de aprendizagem que, quanto antes forem identificados, melhor.
Como observam o neuropediatra Erasmo Casella e a psicóloga e psicopedagoga Melina Blanco Amarins, o estímulo, acompanhado de orientação para a criança, pais e professores, ajuda quem tem esses distúrbios a descobrir caminhos para o conhecimento. O importante é não deixar que a criança passe a vida encarando a escola como um sofrimento. Ela é, acima de tudo, um lugar de descobertas.
Publicado em 03/02/2012