domingo, 27 de março de 2011

Educação, em busca de um saber significativo

Luciana de Jesus Alves Davi
Atualmente, muito tem se discutido sobre a importância da Educação, para a melhoria de todo o contexto social de nosso país. Sempre ouvimos: “a solução está na educação”.
Com certeza essa afirmação tem fundamento, mas penso em seguida: A solução está em que tipo de educação? O que oferecemos hoje para nossas crianças e adolescentes? Será que estamos formando cidadãos críticos, capazes de refletir sobre questões do cotidiano, que tenham autonomia e busquem essa melhoria social? Me parece que não.
Vivendo o dia-a-dia escolar, nos deparamos ainda com atitudes e ou intervenções que segregam, tolhem e/ou reprimem o “ser criativo”.
Pensando em solução baseada na educação, nos remetemos inevitavelmente a um termo que tomo a liberdade de copiar de alguns autores e principalmente de D.W.Winnicott e lanço para nossa reflexão, a escola deve  ser “Suficientemente Boa”, ou seja, deve oferecer para nossas crianças, um ambiente bom, que promova o conhecimento não só numa visão conteudista, mas em todos os seus aspetos. Uma Escola Suficientemente Boa, acolhe, nutre e colabora para que seus integrantes caminhem rumo à independência. Ela forma seres críticos, reflexivos, criativos e que através do gesto espontâneo, buscam conhecer a si próprios e o mundo que os cerca.
Estamos acostumados a conhecer escolas que promovem aulas completamente entediantes, onde o conteúdo é supervalorizado em detrimento ao que ocorre no cotidiano sócio-cultural de nosso país. Ainda se vê aula de 45 ou 50 minutos em que o aluno fica o tempo todo fazendo cópias de lousa, livros e textos, que muitas vezes, não lhes fazem nenhum sentido  e muito menos para o professor. No final do bimestre ou trimestre fazem provas, depois de terem decorado ou automatizado determinado conteúdo e recebem uma nota que fará parte do boletim anual desta criança ou deste jovem. A nota ainda é vista como mais importante do que o processo de construção de conhecimento. Como esses alunos chegaram a essa nota, muitas vezes não é importante. Como pensam, o que sentem, o que sonham e desejam em relação à escola, geralmente é “dispensável”. Nós, adultos determinamos o que as crianças ”devem aprender”.
Punimos a criatividade, a espontaneidade, talvez por medo do vazio, do novo e de supostamente ter que assumir a posição do “não saber”. Fazemos questionários para tentar tirar qualquer possibilidade de perguntas diferentes e com isso temos a sensação de segurança; como se o professor tivesse sempre que saber tudo e prever todas as variáveis em sala de aula. A relação ensinante-apredente que Alícia Fernández  tão brilhantemente valoriza, principalmente quando esses papéis se intercalam, na nossa sociedade fica estagnada, cada um grudado ou colado em seu lugar, sem que haja um movimento pendular e de troca, que tanto enriqueceria nossa relação enquanto ensinantes e aprendentes.
Conhecer de história, de geografia, de matemática é muito importante para todos, mas a supervalorização do conteúdo empobrece as possibilidades de circulação de conhecimentos diversos que ocorrem nas escolas. Relacionar, por exemplo,  o que se aprende de história ao que se vive no dia-a-dia é fundamental para que os alunos entendam porque devem estudar determinados temas. Eles, com isso, conseguem entender e se apropriar desse conteúdo e utilizá-lo de forma criativa, reflexiva.
J. Outeiral já diz há algum tempo que com a internet tão utilizada e diversificada nos dias atuais, o que o aluno não aprendeu em determinada aula, ele aprende apenas clicando o “mouse”. No entanto, o que se vive em termos de socialização, trocas e experiências existenciais, dentro do âmbito escolar, se for perdido, não tem volta.
Esse mesmo autor, em  2004  afirma:  “Eu diria que em primeiro lugar, a escola deve sustentar sonho, deve sustentar a utopia e o desejo. Eu quero dizer a vocês com isso, que a escola, de certa forma, seguindo a idéia da sociedade industrial, expulsou o prazer, a alegria de aprender da sala de aula. Por vezes, se confunde “seriedade no trabalho” com exclusão da alegria e do prazer. E muitas vezes os próprios professores não têm uma “paixão” suficiente para educar e uma alegria suficiente de estar em contato com os seus alunos. A escola tem que resgatar a capacidade de acreditar numa utopia. A utopia não precisa acontecer, a gente tem que desejá-la.”
Precisamos permitir que todas as pessoas que formam a escola, voltem a sonhar, a criar, a arriscar e a incentivar a espontaneidade, principalmente se concordamos com a visão de uma Escola Suficientemente Boa.
Na visão atual do que é a função da escola, tiramos também das crianças o direito de “brincar”. Já na pré-escola, por volta dos 05 ou 06 anos de idade, a criança houve dos adultos: “aproveite agora, porque quando você for para a primeira série, não vai mais ficar brincando, desenhando o tempo todo... vai é fazer prova, vai para uma escola maior, a professora não vai ser mais a tia e você não vai mais no parquinho, porque lá não tem”. Como se o brincar fosse algo dispensável também, que apenas distraísse as crianças. O brincar é muito mais do que isso e pena que tiramos de todos os que crescem o direito do brincar espontâneo, principalmente quando estão dentro da escola. Ouvimos atualmente até escolas defenderem a idéia de Recreio Dirigido, onde até na hora do lanche (apenas em média 15 minutos) as crianças devem ser orientadas sobre o que fazer e como brincar; mais uma vez tiramos a espontaneidade, o gesto, a criatividade, a possibilidade do aluno decidir sobre o que fazer pelo menos nesse tempo.
Mais uma vez, Outeiral comenta em 2004: “Quando alguém brinca, não é só desenvolvimento psicomotor. Quando alguém brinca, cria um vínculo. Onde se brinca a droga entra com mais dificuldade. Quando se brinca, a violência tem mais dificuldade de se impor. Eu diria a vocês, inclusive, que primeira posse da cidadania, a primeira assunção da cidadania não é quando se vota aos 16 anos. Quero dizer a vocês que eu penso que as primeiras posses da cidadania se dão quando alguém brinca. A criança que brinca verdadeiramente começa, então, a se tornar um cidadão. Por exemplo, no meu Estado tem uma multinacional, cuja sede é em Porto Alegre. O setor de Recursos Humanos dessa grande siderúrgica sabe que muitas pessoas com MBA, Mestrado em Administração e Negócios procuram emprego. Entretanto, o que falta é gerente que saiba brincar. E eles levam seus gerentes para ensiná-los a brincar, em seminários: a corrida de saco, subir em árvores. Por quê? Porque falta criatividade e espontaneidade.
A escola pode criar esse espaço de brincar, não para que eles passem a trabalhar para as grandes indústrias. Absolutamente. Mas para que eles construam e possuam cidadania. E diria, se vocês me perguntassem: bem, qual a idéia que tu queres nos transmitir de tudo que dissestes? A idéia que eu queria transmitir é essa: brincar é posse da cidadania. E os professores vão ter que re-aprender a brincar. Eu me arriscaria a dizer que os professores têm dificuldade, inclusive, de movimentar o corpo na sala de aula. A capacidade de brincar dos professores também é atingida.”
Estudar esses autores contemporâneos como Alícia Fernández, D.W.Winnicott, J. Outeiral e outros tantos que refletem sobre esses conflitos em relação á educação e a formação integral dos seres humanos, é fundamental para que comecemos a mudar a visão que nós educadores temos em relação ao processo de aprendizagem, afinal, fomos “educados” ou condicionados a fazer desse jeito que não está dando certo...
Falar sobre outras questões tão importantes no cotidiano escolar e social como: a função dos os pais de da família? Os distúrbios (TDA/H, Dislexia, Discalculia) e dificuldades de aprendizagem? A inclusão? Com certeza todos fundamentais, mas que merecem com certeza outros artigos que focalizem temas tão específicos...questões realmente fundamentais...e fica a idéia!

2 comentários:

  1. Lindo texto Lu.
    As escolas aqui em Campinas estão bombando de conteúdos...as crianças 'tolhidas' mesmo de ser criativas e de brincar...Além de escolas 'conteudistas', possuem pais que enchem a agenda de atividades extras. Diariamente. Acaba não dando tempo de ser criança. Temo muito tudo isso... abraço da Nádia.

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  2. Como funcionário de escola e Professor de Cinema Voluntário, concordo com sua visão.

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